O ex-procurador suíço Dick Marty falou publicamente esta semana. pela primeira vez desde há anos, sobre o seu relatório explosivo de Dezembro de 2010 sobre o tráfico ilegal de órgãos humanos no Kosovo. Ele falou durante o fórum “Carrefour de Sarajevo” na Universidade de Neuchâtel, perante um público numeroso.
Neste relatório, Marty (que também é director da Fundação Hirondelle, proprietária do site JusticeInfo.net)apontou o dedo ao actual presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, acusado de ser “um dos mais perigosos patrocinadores do sub-mundo criminoso albaniano”.
O relatório diz que o presidente do Kosovo e seus próximos colaboradores “deram ordem e nalguns casos supervisionaram pessoalmente um certo número de assassinatos, detenções, ataques e interrogatórios em várias regiões do Kosovo, nomeadamente no tempo do UCK (Exército de Libertação do Kosovo) em território albanês entre 1998 e 2000.”
Dick Marty, que foi três vezes mandatado para investigar para o Conselho da Europa sobre as prisões secretas da CIA na Europa, os crimes no norte do Caúcaso e o tráfico de órgãos no Kosovo em 1999, teve de se confrontar neste processo com o cinismo da Realpolitik e os interesses do Estado.
Nesta Quarta-feira ele admitiu que ficara «abalado» pela produção destes três relatórios que “destruíram muitas das ilusoes e esperanças que tinha na justiça. Descobri que os governos mentem e manipulam a informação, que as pessoas no poder dizer uma coisa e fazem outra. Falam de direitos humanos no Domingo e violam-nos na Segunda-feira.”
quanto ao relatório que incrimina de tráfico de órgãos os líderes do UCK incluindo o actual presidente do Kosovo, Marty disse que estava siderado pela anterior procuradora do Tribunal Criminal Internacional para a Ex-Jugoslávia (ICTY) Carla del Ponte, apenas ter levantado o problema no seu livro de book Madame Procuradora: Confronto com os Piores Criminosos da Humanidade e com a Cultura da Impunidade, ou seja, quatro anos depois do seu serviço ter falhado exibir à luz do dia estas alegações.
Marty disse que era ainda mais chocante quando em 2010 ele pediu para ver evidências que os procuradores do ICTY tivessem reunido sobre o tráfico de órgãos e ter-lhe sido dito que “estas evidências misteriosamente desapreceram do Gabinete do Procurador”.
Para Marty, a justiça sobre este problema é uma ilusão. “Os americanos deram prioridade a uma estabilidade de curto termo,” refere. “Com os europeus, eles fecharam os olhos, embora todos soubessem perfeitamente dos crimes cometidos no Kosovo e quem eram os responsáveis.”
Dentro de dias o Tribunal Especial sobre o Kosovo deveria estar operacional, tendo um mandato para processar os responsáveis pelo tráfico de órgãos revelado por Dick Marty. Mas ele não espera muito deste primeiro tribunal criado pela União Europeia. “Nestas condições, quem será suficientemente louco para ir testemunhar, 20 anos depois dos crimes terem ocorrido?” pergunta. “Muitas testemunhas já foram assassinadas.”
Observatório da Guerra e do Militarismo 
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