Na passada quinta-feira, o Exército dos Estados Unidos fez aos veteranos através do twitter uma pergunta simples: “Como o serviço militar o transformou?” À medida que o Memorial Day se aproxima, quem está no comando da comunicação social do Exército provavelmente espera algumas boas respostas sobre os benefícios do serviço militar como, educação universitária, os laços formados com colegas soldados ou a inestimável experiência de vida. Mas a triste realidade dos veteranos americanos e as dificuldades que as suas famílias enfrentam manifestou-se em milhares de respostas contrárias ao que o Exército esperava.
Michael J Neel respondeu: “26 irmãos mortos. Apenas 8 no teatro de guerra. A Psique protege-me após 3 tentativas de suicidio. Tudo o que realizámos em Mosul foi desperdiçado. Toda vida que demos, foi cuspida. Foi este o impacto do serviço militar. O veterano Drew Turner disse:“ Vamos ver. Perdi o uso funcional de uma mão, desenvolvi um raro distúrbio de movimento e tenho cancro, ambos sequelas de queimaduras, durmo de 3 a 4 horas na maioria das noites devido a pesadelos e durante o dia tenho ataques de ansiedade aleatórios, todos devido a PTSD (Perturbação de Stress Pós-Traumático, 7 hérnia de disco, artrite …
O ex-capelão do Exército Bill Cork respondeu: “Lembrei-me de doze soldados que escolheram o suicídio, três mortos em capotagens evitáveis, outra dúzia sexualmente agredida e muitas pessoas e famílias quebradas por actos imorais de uma guerra que nunca terminará.”
Nem todas as pessoas que responderam ao inquérito eram veteranos, alguns eram amigos e familiares de soldados que cometeram suicídio. Um utilizador, Sandy Almon, disse: “Meu filho serviu e fez uma comissão e conseguiu voltar, depois alistou-se novamente e deu um tiro na cabeça”. Num relatório divulgado pela VA (Associação de Veteranos) em 2018, os veteranos responderam que 14 por cento dos suicídios do país em 2016 foram em militares, apesar de representarem apenas 8 por cento da população. Um total de 6.079 veteranos puseram termo à vida em 2016.
A PTSD é muito comum nos veteranos actualmente. De acordo com o site da VA entre 11 a 20 por cento dos veteranos que serviram no Iraque foram diagnosticados com PTSD. Joe Burchett respondeu: “Eu passo noites sem dormir, com culpa dos horrores e sofrimentos que vi. Somos todos máquinas de dor dirigidos por loucos; porque se eu falar e disser “a guerra interminável está errada”, os meus companheiros de batalha, lutando contra os seus próprios demónios, vão me excluir.
Veteranos que serviram no Iraque e no Afeganistão parecem ter um risco acrescido de cancro devido à exposição a poços de queima, onde todos os tipos de resíduos e lixo foram queimados, desde resíduos militares a restos humanos. O utilizador 07Mjf55 mencionou na sua resposta, “Eu servi no Iraque do outro lado da rua dos poços de queima. Um ano depois eu era diagnosticado com lupus e 10 anos depois eu tinha outro diagnóstico Cancro da Mama estádio 3. Eu ainda não consigo os 100% de indemnização e total de incapacidade, porque a junta médica do VA diz “Eu posso melhorar”. Mas não há cura para o lúpus! “
Como o tópico não seguiu o plano traçado o Exército dos EUA passou a fazer algum controle de danos e twittou: “Para todos os que responderam a este tópico, obrigado por compartilhar sua história. Suas histórias são reais, são importantes e podem ajudar outras pessoas em situações semelhantes. O Exército está comprometido com a saúde, a segurança e o bem-estar de nossos soldados ”. Também enviaram o número de telefone do Twitter para o Veterans Crisis Hotline (linha telefónica de apoio aos veteranos).
“Meu primo suicidou-se enquanto estava de serviço num arsenal depois de voltar de um exercício no exterior.” –Lacy M. Johnson (@lacymjohnson)
“Depressão, ansiedade, ainda não consigo lidar bem com barulhos altos. Eu fui assediada sexualmente por um dos meus superiores. Quando eu o denunciei, com testemunhas para corroborar a minha história, nada aconteceu. Nada. Um ano depois, ele roubou-me um laptop e foi despromovido. Eu valho menos do que um laptop. ”–Schmox (@IvoryGazelle)
“Meu melhor amigo de infância enloqueceu depois de servir na marinha na Marinha e agora ele mora num quarto em casa da sua mãe e mal consegue conversar. Só fuma maconha e bebe um xarope narcótico para a tosse que vai roubando, já que não pode ter um emprego. ”–Mattao Mischief Melly (@ Matthew05761231)
“Eu tive o mesmo pesadelo quase todas as noites nos últimos 15 anos” – Mike Prysner (@MikePrysner)
“Eu levei metade do meu melhor amigo às costas depois de o matarem. Meu irmão morreu com um tiro de morteiro quando ia a caminho do funeral de outro soldado. Eu tenho articulações mutiladas, PTSD, perda auditiva e lúpus. Eu também estou desempregado. ”– Tybalt Wallace (@SyntaxAgility)
Tradução de António Pereira
Nota do Tradutor – A Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD) é uma perturbação mental que se pode desenvolver em resposta a um acontecimento traumático envolvendo risco de vida. Caracteriza-se por pensamentos intrusivos, pesadelos ou vivencias intensas do acontecimento traumático passado, procura incessante por evitar estímulos, pessoas, situações ou actividades que despoletem memórias associadas a esse acontecimento traumático e um estado constante de alerta assim como insónia grave. A perturbação causa um enorme sofrimento e problemas a nível pessoal, social e profissional. O individuo com esta perturbação tem uma maior tendência para o suicídio e para se automutilar.
Observatório da Guerra e do Militarismo 
Testemunhos muito impressionantes.
Deve-se também pensar no que as populações civis dos países ocupados pelas forças dos EUA (Afeganistão, Iraque, Líbia…) têm sofrido: para elas não há infra-estrutura nenhuma de tratamento e assistência!
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